quarta-feira, 26 de junho de 2013

A sociedade pelas lentes de Christof em seu Show de Truman

Dissertar sobre o clássico O Show de Truman (The Truman Show) é uma experiência tão prazerosa quanto assisti-lo. Esse filme surpreende e encanta pelo elevado nível de debates e reflexões que ele pode proporcionar acerca de diversos assuntos corriqueiros. Apesar da sutileza com a qual alguns temas são apresentados pelo diretor Peter Weir, o grau de aprofundamento que esta obra nos permite sobre os assuntos é elevado.




A trama gira em torno de Truman Burbank, interpretado por Jim Carrey, papel esse que lhe concedeu um globo de ouro como melhor ator. O protagonista foi o primeiro bebê oficialmente adotado por um estúdio e, sem que saiba do que ocorre, mora dentro de uma cidade fictícia construída dentro de um imenso estúdio que simula uma ilha onde todos seus amigos, parentes e demais habitantes são atores. Toda a vida de Truman foi monitorada pelo diretor Christof, interpretado por Ed Harris, criador do Reallity Show que exibe a rotina do personagem de Jim Carrey durante 24 horas por dia, sem nunca ter sido interrompido. Desde que estava no ventre da mãe, Truman foi filmado pelo diretor, através de uma câmera de ultrassonografia, e assim foi prosseguindo. O mundo acompanhou o primeiro passo de Truman, seu primeiro dia na escola, seu casamento, dentre outros fatos marcantes de sua vida.


O recorte do longa se dá na época em que Truman possui 30 anos e começa a suspeitar de que algo não está muito certo neste mundo que acredita ser o real. Diversas situações dão pistas à Truman de que este mundo não é tão natural como ele imaginava ser, desde holofotes despencando do céu até pessoas e carros que ficam o dia todo circulando pelo mesmo percurso, sem motivo aparente.


Certamente a crítica maior que permeia esta obra é sobre o controle midiático, visto que o principal personagem não passa de uma cobaia de um projeto criado para sustentar a grande indústria do entretenimento. Perceber o poder que a mídia possui de influenciar a vida de uma pessoa e tornar tudo artificial é muito bem explorado nesta metáfora do cinema.


Deste tema central podemos também iniciar um importante debate acerca da privacidade, até que ponto extremo pode chegar uma invasão de privacidade. É sabido que, atualmente, com a ascensão das redes sociais e da internet, a facilidade pela busca de dados e informações é muito grande, ocasionando na rápida aquisição de detalhes sobre pessoas diversas. A ideia de privacidade hoje acaba naturalmente sendo dão deturpada que, ao invés de as pessoas se preocuparem em manter uma privacidade, uma segurança, fazem o oposto, acreditando ser certa a exibição exagerada de suas vidas pessoais, revelando os mais diversos detalhes, nas redes sociais.

Existe um limite para tudo e, quando este é ultrapassado, temos diversos problemas éticos e de segurança. Estamos vivenciando uma problemática nos Estados Unidos exatamente sobre esta invasão de privacidade, com a descoberta de grampos telefônicos nas residências dos cidadãos norte-americanos. Estes fatos comprovam que este debate ainda é recente e que esta problematização está ganhando novas ferramentas para embasar suas diversas técnicas de invasão.


O Show de Truman, neste aspecto de um debate sobre a invasão de privacidade se relaciona muito bem com a obra 1984, de George Orwell, também responsável por grandes produções como A Revolução dos Bichos, Cidadão Kane e o episódio de A Guerra dos Mundos. Neste romance, de 1948, o protagonista Winston vive em uma sociedade ditatorial completamente dominada pelo Estado em que todos são vigiados pelo que chamam de O Grande Irmão, o Big Brother, termo que, inclusive, deu origem ao nome dos reality shows atuais. É importante perceber essas similaridades entre ambas as obras, pois tanto Winston como Truman estão sendo vigiados sobre uma ótica ditatorial ideológica. A diferença é que, enquanto o protagonista da obra de Orwell vive na ditadura política, extremamente agressiva, o protagonista de Weir vive a ditadura ideológica de um projeto midiático que não o permite sair do mundo em que vive e acaba, assim como os ditadores de 1984, agindo com agressão quando necessário, para manter esta falsa ordem natural.


Dentre tantas ferramentas utilizadas pelo diretor para manter Truman neste imenso estúdio, a que mais chama a atenção acaba sendo um limite psicológico que foi imposto ao protagonista através de um roteiro escrito para sua vida. Truman não é capaz de cruzar o mar devido a um trauma de infância. O personagem de Jim Carrey não possui a liberdade de que sua vida flua, apesar de já estar preso, ainda existe todo um roteiro escrito pelos produtores para ela, desde a aparição da namorada, seu casamento, a separação até o fatídico fato do episódio em que simulam a morte do pai por um afogamento no mar. Truman, pequeno, estava presente no barco junto ao pai, quando este foi acometido por uma terrível tempestade que atira seu genitor ao mar, e este desaparece. Esta situação foi escrita para evitar que Truman saia da ilha, lhe gerando o trauma psicológico. A partir deste ponto, passamos a refletir sobre os limites da mídia. Até que ponto se pode manipular a vida de alguém, o pensamento e a opinião de um indivíduo, chegando a lhe causar um grande trauma, apenas para se conseguir algo como ibope, poder, fama.


Truman vive uma falsa realidade em que pode ser livre para fazer o que quer, dentro de um cercado, não é livre para deixar este ambiente pré-estabelecido. Esta artificialidade é também notada nas pessoas que o cercam, os atores, que propositalmente se mostram extremamente forçados e exagerados. Merece destaque também a atuação de Laura Linney, que interpreta Meryl, a esposa de Truman. A artificialidade dela como esposa chega a ser tão grande que irrita o espectador, nos lembra aquele tipo de pessoa que não vemos há anos, encontramos na rua, ela nos pergunta como estamos e respondemos dizendo que não estamos bem, pois o amigo acabou de morrer e ela então responde com um: “ah, sei, legal, mas como você emagreceu!”. Resumindo, ela é o tipo de pessoa alienada que não dá a mínima importância ao que Truman diz, chegando até mesmo a ser questionada por ele, que pergunta se ela ouve o que ele está comunicando.

É de um bom senso muito grande da parte do diretor Peter Weir colocar as cenas de comédia para introduzir um ritmo animado ao filme, como os forçados Merchandisings que Meryl faz quando fala com Truman sobre algum produto, seja um conjunto de facas que picam, cortam e fatiam; ou um café extremamente saboroso. O próprio protagonista estranha essa atitude, questionando a esposa desesperadamente sobre o que ela está dizendo e para quem está falando. Este tipo de Merchandising forçado foi encontrado ao longo de diversas produções de cinema, TV e editoriais. Hoje é uma tendência que voltem parcialmente, visto que por questões legais e éticas está sendo proibido o Merchandising sutil, que acaba sendo considerado uma espécie de subliminaridade. No filme, o Merchandising é bem explorado no projeto de Christof, que lucra muito com todos os produtos que estão à venda relacionados ao show, desde a roupa que os atores vestem até a casa que habitam, as comidas que consomem.


Diversas situações cômicas também acontecem para dar as dicas à Truman de que ele vive em um mundo de ilusão, como engarrafamentos que surgem do nada nas ruas, todos os problemas que ele encontra quando tenta viajar, o elevador sem fundo que ele presencia no momento em que fica imprevisível. Cada situação permite a Jim Carrey se soltar em seu modo peculiar e divertido de atuação. Notamos que o ator está muito confortável neste filme que, por seu destaque e naturalidade de atuação, o lançou ao mercado cinematográfico, em 1998.


A inovação em O Show de Truman se encontra desde o início do filme, que remete a uma entrevista com os principais atores dando depoimentos sobre a atuação no reality show, até o final, na forma como o personagem de Jim Carrey descobre a verdade, batendo com seu veleiro contra a parede cinematográfica do estúdio que, de longe, parecia um grande horizonte.


Neste desfecho, é interessante analisar bem e criticamente o discurso que o diretor tem com Truman, para tentar convence-lo a ficar no estúdio e não sair para a realidade. Se trouxermos ao nosso cotidiano, o discurso que Christof tem com o personagem de Jim Carrey é o mesmo que a mídia tem conosco todos os dias, em que tenta nos convencer de aceitarmos o que ela nos transmite, passando a ideia de que estaremos bem e cômodos em continuar a consumindo, do que se tentarmos nos livrar de suas influências e ir contra suas estratégias de manipulação.


O personagem de Harris diz ao protagonista que o mundo no qual ele vive não é diferente do mundo que ele encontrará lá fora. Porém, no mundo artificial, Truman não tem com o que se preocupar, já que ele é o astro do espetáculo, diferentemente das situações que ele passaria se fosse ao mundo real, sendo mais um na multidão em um universo imprevisível. De fato, Weir nos mostrou ao longo do filme este certo poder que Truman tem sobre seu mundo, principalmente em uma cena em que o personagem de Jim Carrey consegue parar o tráfico apenas estendendo as mãos sobre os carros e andando pela rua, cena esta exponenciada pela bela composição musical de Burkhard Dallwitz. Este debate entre sair para uma realidade difícil ou permanecer na artificialidade confortável bebe da mesma fonte em que os irmãos Wachowski se inspiraram para fazer a trama de Matrix, ou seja, do Mito da Caverna de Platão. A escolha de Neo pelas pílulas que deve tomar é a mesma que Truman possui em sair ou não do estúdio e arcar com as consequências de uma vida real e complexa. Ao fim, ambas as obras também compartilham das ideias de Jean Baudrillard acerca do domínio da mídia e a cultura de massas, porém Matrix se revela uma obra extremamente comercial em suas continuações e perde esse apelo crítico.


O paradoxo encontrado na conversa do diretor com Truman se dá pelo fato de que este é o diálogo constante entre nós, antes apenas consumidores de mídia, com os veículos de comunicação, porém, no filme, o protagonista não é um consumidor da mídia, mas sim uma parte desta própria produção midiática, mas que atua de forma alienada e inconsciente deste seu papel.


Hoje, com as evoluções dos meios de comunicação, as pessoas passam de ser apenas consumidoras de conteúdo, para também produtoras, seja por textos postados em blogues, publicações em redes sociais. O consumidor tem voz ativa e se torna o próprio elemento midiático nessa personificação da mídia. Esta é, talvez, a maior evolução que notamos da época da produção do filme para os dias atuais.


Existe também a sutil crítica religiosa no filme onde o homem passa a, no recorte, assumir o papel de Deus no controle do universo (intepretação esta para os adeptos do criacionismo, que acreditam na existência de um Deus que rege um mundo). Este fato é evidenciado em diversas cenas em que Christof possui o poder de controlar o tempo e o clima. É curioso perceber a cena em que, para procurar Truman que fugiu, durante a noite, a própria lua, que é a ilha de edição do show, se torna um holofote e eles conseguem “trazer” o sol à ilha muito antes de seu nascer, confundindo, inclusive, os atores que habitam o ambiente sobre que horas seriam, mais uma metáfora de alienação midiática. O primeiro encontro de Truman com Christof é auditivo. O diretor faz contato falando ao microfone com o protagonista que, olhando para o céu, nota uma voz distante que surge dentre as nuvens e raios de sol, visão essa geralmente atribuída à uma comunicação de Deus com os humanos.


O conflito psicológico de Christof é muito bem representado na atuação de Ed Harris em que, em alguns momentos podemos notar que o diretor sente um carinho por Truman, como na cena em que o protagonista dorme e o diretor “acaricia” seu rosto adormecido em uma grande tela. Porém, não se sabe se é um afeto paternal ou se simplesmente é aquele tipo de encantamento que alguém possui por um “pote de ouro, a fonte de riqueza”, já que em outros momentos Christof é totalmente cruel com Truman, chegando a quase afoga-lo no mar, dizendo de forma subentendida que se o mundo o viu nascer ao vivo, poderia facilmente o ver morrer também.


O ambiente do longa é extremamente bem constituído no roteiro escrito por Andrew Niccol, onde notamos duas atmosferas. A primeira, a principal, se constitui no interior do estúdio, na vida de Truman, sua relação com os atores e os esforços da equipe de produção a atuar e mascarar sua falsa realidade. A segunda atmosfera é a externa ao estúdio, são as cenas das pessoas que acompanham o show, em diversos momentos, em vários ambientes, de várias idades e classes sociais. Permeando as duas atmosferas temos o ambiente da ilha de edição e o diretor, que mantém contato com ambos os universos e utiliza informações e feedbacks de um para constituir realidades de outro.


Apenas a análise dos espectadores de O Show de Truman nos fornece brilhantes discussões e reflexões sobre como as pessoas se portam perante uma mídia, um fenômeno midiático. Percebemos a grande dependência que estas pessoas têm pelo show, estando atentas a maior parte do tempo no que está ocorrendo com Truman, gravando os melhores momentos do espetáculo e debatendo constantemente com amigos e colegas sobre a trama. E aqui existe outro paradoxo representado por Niccol; ao mesmo tempo em que as pessoas possuem tanta dependência do show, mostrado tanto na rotina delas conectadas, quanto ao desespero que foi quando o show sai pela primeira vez do ar, devido à fuga de Truman, atingindo os maiores picos da audiência (sendo, esta, um excelente case da criação de um viral, afinal, o show tinha tanto poder perante a massa que, mesmo quando ele não mostra nada, as pessoas conectam para tentar entender a função deste nada, se desesperam por quanto tempo isso irá durar e comentam com mais pessoas ainda sobre o ocorrido, que ligam a TV para comprovar que o show não está no ar), com os espectadores ligando desesperados ao estúdio em busca de respostas, quando o show acaba definitivamente, as pessoas rapidamente o ignoram e esquecem. Este fato é mostrado na cena dos policiais que conversam assistindo ao show e, quando percebem que acabou, um simplesmente pergunta o que terá em outro canal, e eles trocam. Apesar de estarem livres do programa, não estão livres da mídia, pois continuam procurando opções na TV. O fato de o desligamento com o show ser tão imediato e as pessoas acabarem por cortar relações com o programa sem remorsos se deve ao fato de que, ao fim, este espetáculo nada as agregou, não trouxe frutos à elas, é a efemeridade dos produtos da Indústria Cultural e suas constantes necessidades de criação de fórmulas para as repetições e elevação do Ciclo de Vida desses produtos do entretenimento.


No caso do show, temos uma importante análise sobre sua forma e seu conteúdo. Por mais que o formato do show fosse inovador, com o primeiro estúdio que pode ser visto do espaço, com clima controlado e faturamento igual ao PIB de um país pequeno, seu conteúdo acaba sendo fraco, empobrecido. O fato de as pessoas persistirem por 30 anos assistindo ao show é uma mera hipérbole do diretor do longa, para mostrar o controle da mídia. No mundo real, esta fórmula acabaria por perder o interesse da população e, mesmo com as evoluções tecnológicas que o estúdio teve ao longo dos 30 anos, não surtiria o mesmo efeito se o conteúdo não fosse aprimorado, ao invés de se criar apenas roteiros para a comum e pacata vida de um cidadão.


As hipérboles inseridas por Weir no filme são diversas e hilárias, dando o ritmo cômico ao filme. Temos como exemplos as aparições das pessoas que invadem o show, exageradas, saindo de caixas de presente ou saltando de paraquedas e as reações do público assistindo ao programa. É mostrado que, quando Truman está prestes a abandonar o estúdio, as pessoas que o assistem no bar fazem uma aposta para saber se ele sai ou fica. Quando ele efetivamente sai, notamos os espectadores exageradamente comovidos, alegres e as pessoas no bar comemorando, porém não se sabe se comemoram pela vitória, superação e bem estar de um indivíduo ou se comemoram por terem vencido a aposta.


A respeito dos casos de invasão do estúdio, Niccol joga muito bem isso no roteiro, fazendo com que nós, espectadores do filme sejamos tão manipulados quanto os espectadores do show. Em um dado momento o pai de Truman que estava naufragado no mar reaparece perante ele. Logo que ele faz contato com o filho, membros da produção o cercam e o retiram de ação, fazendo o espectador tanto do longa como do show acreditar que o pai se infiltrou no estúdio para rever o filme. Neste momento nós e os espectadores do show temos um mesmo papel, e começamos a torcer pela felicidade de Truman. Porém, somos irônica e cruelmente frustrados ao perceber que até mesmo o reencontro de pai e filho era um roteiro do diretor para atingir Ibope, que controla cada elemento da cena para que seja épica, desde a música até os controles de câmera. Nesta parte nós e os espectadores do show voltamos a ter papéis diferentes, pois enquanto os espectadores se emocionam acreditando no reencontro do pai, nós, que acompanhamos os “bastidores” do show (que é o que, ao fim, o filme também acaba sendo, uma filmagem dos bastidores deste show, visto que o filme deixa fluir tanto a trama de Truman quanto a de Christof, sem interferências) sabemos que não passa de uma trama e nos sentimos, inclusive, enganados por Christof, mas conscientes disso. Esse é um outro aspecto inteligente do filme, dá ao espectador o poder de ver os bastidores da produção, é como se pudéssemos ver este poder midiático, suas armações e influências, sendo um grande estudo de caso.


O filme apresenta também suas hipérboles técnicas, como a existência de uma câmera dentro do apontador de lápis que acompanha o movimento circular do lápis sendo apontado, câmera esta sem motivo e finalidade, inserida no longa para representar o nível de detalhamento que o estúdio possui e a crítica aos limites da privacidade e suas necessidades. Uma câmera em um apontador automático seria inútil, visto que o estúdio já tem outras 4999 câmeras; o ângulo da câmera introduzida no objeto não filmaria efetivamente as expressões do protagonista e não teria real função ao programa fictício, exceto sua função no filme de representar este exagero.


Esta situação se dá ao fato de que o filme flui totalmente pela linguagem metalinguística, ou seja, a função de linguagem centrada no código. É um filme, uma obra da indústria de entretenimento feito sobre uma pessoa que vivencia sem saber um reality show, mostra os desafios do diretor em conseguir concretizar seu projeto, que é também outra obra sobre a indústria do entretenimento e ainda possui atores que participam do filme interpretando atores que interpretam pessoas normais no reality show. Seria como um filme sobre alguém fazendo um filme. A função metalinguística é tão explorada e evidenciada que o filme é homônimo ao reality show que ele apresenta.


Neste caso específico, para o sucesso da transparência dessa função metalinguística, se nota um trabalho árduo e muito minucioso do diretor Peter Weir e de sua equipe de produção, pois deve ficar sempre evidente quando a cena apresentada é para ser uma filmagem de Truman para o longa metragem, ou quando a cena apresentada é uma visão que as pessoas tem do show, por uma das 5000 lentes espalhadas pelo estúdio. Ou seja, deve, tecnicamente, ficar bem visível e evidente quando o diretor do longa, Peter Weir, está comandando a cena para ser componente do longa que conta a história deste show, ou quando é para parecer que a cena está sendo dirigida pelo diretor fictício Christof e é parte integrante do próprio show.
De uma forma muito simples e sutil o diretor consegue transmitir essa evidência. Quando você vê dentro do estúdio uma cena com cores mais nítidas, um controle sutil do zoom, de tracking e enquadramentos, provavelmente esta é uma cena preparada para que nós, espectadores do filme, tenhamos a visão e compreensão da história macro. Notamos que as câmeras utilizadas pelo estúdio fictício possuem uma qualidade menor da imagem, são geralmente angulares, ampliando o campo da imagem, o distorcendo e arredondando, ficam em locais incomuns para câmeras, dando esta ideia de que estão escondidas e, assim, geralmente estas cenas se apresentam em contra plangeé e, principalmente, são emolduradas, como um olho mágico, mostrando que estão inseridas em algum orifício escondido ou dentro de um objeto.


O filme possui um final completo do sentido que mostra a decisão de Truman, ele sai mesmo do estúdio, diferentemente do que ocorreria com um filme tradicional oriental em que o final seria em aberto. Porém, o fim não revela tudo. Certamente quem assiste ao filme tem muita curiosidade de saber como é o primeiro contato de Truman com o mundo exterior, sua adaptação, reencontro com a amada e a nova vida. Mas, isso o filme não mostra, ele encerra quando Truman sai da porta. Esta é uma estratégia para que o final do filme economize elementos. Ele é simples, ou seja, ele se encerra sem cerimônias, mas não é simplificado. E vale lembrar que ser simples é diferente de ser simplificado. Na simplicidade se encontra muita arte e encanto, profissionalismo, muitos filmes atingiram seus marcos por serem simples. Porém, o filme simplificado é aquele que começa a entregar elementos demais, acaba por falar muito com detalhe, relevar muito as coisas e, na impressão de que está subestimando o espectador, ele fecha as mensagens. O simplificado é aquela quebra de ritmo e graça como quando alguém tem que explicar uma piada. Com o final semi-finalizado, Peter Weir respeita absolutamente seu público lhe dando a liberdade de imaginar a nova vida de Truman, cada um pensando de uma forma e, a partir do desfecho, norteando a vida do personagem de Jim Carrey, seus feitos e acontecimentos da forma que melhor lhe convém.

Em suma, O Show de Truman é um grande marco cinematográfico que consegue entreter a família, pessoas de diversas faixas etárias e gerar diferentes análises sobre cada aspecto do filme, nos proporcionando grande e enriquecedores debates.


Luis Fernando Pizzarro Bueno Ramos

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